“Não era nada com você... Joguei sobre você tantos medos, tanta coisa travada, tanto medo de rejeição, tanta dor. Difícil explicar. Muitas coisas duras por dentro. Farpas. Uma pressa, uma emergência. Uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesma me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não sei se em algum momento cheguei a ver você como outra pessoa, ou, o tempo todo como uma possibilidade de resolver minha carência. Estou tentando ser honesta e limpa. Uma possibilidade que eu precisava devorar ou destruir. Porque até hoje não consegui conquistar essa disciplina, essa macrobiótica dos sentimentos, essa frugalidade das emoções. Fico tomada de paixão. O que há tempos não ficava. Mas isso tudo pode parecer longo e chato, porém, eu não quero ter vergonha de nada que eu seja capaz de sentir.”
Texto de minha irmã, Camila ;)
11 comentários:
Muito bom :D
Lindo texto, princesa.
O trecho que ela pôs de Caio F. Abreu ficou perfeito! Não sei qual devo elogiar mais.
Beijão.
O lago dos cisnes
Não fosse domingo de manhã... e talvez o parque, bem encaixado ali no centro da cidade dos arranha-céus, não estivesse tão vazio.
Mas o sol acabara de despontar sobre as montanhas do sul e o vento fresco do outono retia no conforto das casas os habituais corredores de fim de semana, os atletas viciados e os passeantes de animais.
O parque, aquela hora tão matinal, era um mundo de silêncios, quebrados uma vez por outra pelo canto dos pássaros ou pelos gritos estridentes dos esquilos.
O lago, adornado de patos e cisnes, ainda não recebera as habituais visitas; as crianças com saquinhos de pão, os pequenos barcos à vela, os botes de remar.
Sentou-se.
O velho banco de madeira, já bem precisado de pintura nova, rangeu sob o seu peso.
Não necessitava de fazer nada; sabia que dali a muito pouco tempo, eles se aproximariam, curiosos como sempre, à espera de um pedaço de pão ou outra guloseima qualquer.
Ele sabia disso também.
E como sempre, trouzera no bolso os dois saquinhos de plástico, bem cheios dos pequenos mimos para os “seus” cisnes.
Ficou a vê-los aproximar, sulcando graciosamente as águas imóveis – sem esforço, sem ruido, como veleiros em mar aberto, rasgando simplesmente a superfície das águas.
- Magníficos – pensou – simplesmente magníficos...
O grupo habitual era constituido por quatro cisnes, sempre nadando juntos, numa formação milimétrica que, obedecendo a ordens invisíveis, faziam com que todos guinassem na mesma direcção, em perfeita sintonia de movimentos.
- Aí estão vocês...
Abriu um dos saquinhos e entreteve-se metódicamente a atirar os pequenos pedaços de pão que trouxera para a água. Os cisnes, com um à vontade que o hábito já criara, nem disputavam os pedaços de pão, limitando-se a esperar que ele os atirasse para mais perto. Sabiam que todos receberiam o seu quinhão.
Sempre fora assim... e de há muito tempo.
- Mas... e o azul? – interrrogou-se de súbito – Onde está o azul?
Um, dois, três... três cisnes. Faltava um cisne, o seu cisne azul.
Sempre lhe chamara azul pelo colar de penas azuladas que lhe ornava o longo pescoço branco.
O seu cisne azul... sempre fora o especial – desde muito cedo, quando percebera que ele era o unico que não se interessava pelas migalhas de pão. Munira-se de paciência para lhe descobrir os gostos, e de tudo tentara; bagos de arroz, banana, amoras.... até finalmente acertar.
O cisne azul adorava... pedacinhos de maçã.
E com uma dedicação infinita, ele cortava as maçãs em pequenos pedaços e levava-as num segundo sauinho, como se de uma ementa especial se tratasse.
E agora... onde estaria o seu cisne azul?
Esperou em vão, procurou nos extremos, junto aos juncos, às ervas altas da margem. Estaria doente? Teria sido levado do lago?
- Onde está ele? – perguntou em voz alta, como se os restantes cisnes lhe pudessem grasnar a resposta.
Mas não. Nada nem ninguém lhe respondeu.
E sem perceber bem como nem porquê.... sentiu-se de repente um pouco mais triste, ou sózinho.
- Posso sentar-me aqui?
Acordou subitamente, os pensamentos interrompidos pela voz cristalina.
- Anh… claro, claro… deixe-me só afastar os saquinhos…
Ela sentou-se, ainda ofegante da corrida.
- Vê-se que está mesmo a precisar de uma pausa…. - lá foi ele dizendo, vendo-a corada do esforço.
Ela riu-se, divertida.
(continua...)
- É verdade… acho que hoje abusei um pouquinho… nem é habitual cruzar o parque por este lado mas hoje… sabe como é…por vezes dão-nos aqueles repentes…
Ele continuou a esvaziar as migalhas de pão, ela a esticar os membros cansados e a respirar longamente, tentando baixar o ritmo.
- Isso que aí tem nesse saquinho… - e ia apontando para o saquinho de plástico ainda fechado, abandonado sobre o banco - por acaso não são pedacinhos de maçã, pois não?
Ele virou-se para ela, meio atónito, meio distraído.
- São… por acaso são… se gostar, sirva-se…
- A sério? Posso? Nem sabe como gosto… pedacinhos de maçã, já cortadinhos e tudo…
E abrindo o saco, pegou em dois pedacinhos e colocou-os na boca, deliciando-se com o sabor.
- Hum… são óptimos… mesmo muito bons… a sério que não se importa se eu tirar mais um?
Ele sorriu - Claro que não… sirva-se à vontade…
Simpatizou com ela. O fato de treino branco, aquela gola azul, o cabelo despenteado sobre os ombros… fazia-lhe lembrar algo de familiar, apesar de não lhe surgir à memória o quê.
- São mesmo bons… - lá continuou ela - e olhe que coincidência, ainda bem que decido correr por este lado do parque… mas… não come também? Não gosta?
- Os pedacinhos de maçã? Não, não… não eram para mim… mas sirva-se… ainda bem que gostou…
Ficou a olhar para ela, a alegria a brilhar-lhe nos olhos. Ou talvez fosse simplesmente a juventude.
E de repente, assaltou-lhe o espírito aquele pensamento incómodo de que talvez - quem sabe, talvez - há demasiado tempo que se estivesse a esconder do mundo, refugiando-se no silêncio, vivendo um luto que há muito já perdera toda a razão de ser.
Tudo… mas mesmo tudo na vida… continuava.
- Olhe… - e viu-se a estender-lhe a mão, num cumprimento banal - eu sou o João…
- Que simpatia, João… e obrigado pelos pedacinhos de maçã… são mesmo muito bons… eu sou a Joana…
Riram os dois.
- Joana? … Engraçado… João, Joana… mas pronto, Joana… quando acabar de devorar esses pedacinhos de maçã, será que me quer fazer companhia num café com uns bolinhos? É que… de a ver comer assim… até me abriu o apetite…
Ela riu-se, os olhos de cisne a disparar sobre ele.
- Um café? Claro que sim… e paga você?
Foi a vez dele rir.
- Pagar? Claro que pago. Desta vez… pago eu…. Mas para a próxima…
Ela acenou a cabeça, simplesmente.
E voltou a rir.
OI CLARA, ESTOU LHE CONVIDANDO PARA CONHECER MEU BLOG DE HUMOR:
"HUMOR EM TEXTO"!
É DE GRAÇA.
UM ABRAÇÃO CARIOCA.
Hoje é sexta, então sorria!!
E tenha um fds abençoado
bjsss
ja estou seguindo o blog
texto lindo, mesmo, mesmo!
Quanto sentimento em um texto só! *-*
Ela deveria ter um blog também. Eu leria.
Um beijo.
Lindíssimo! Sua irmã escreve muito bem :D
beijos
Agora fiquei em dúvida! Será que esse talento é de família??? Parabenize sua irmã!! um beijo
Esse texto não é da sua irmã...é do Caio Fernando Abreu O.o
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