quarta-feira, 29 de julho de 2009

Minha cozinha de verbos.

Temperos, sabores, incrementos.. Tantas coisas compõe a nossa 'cozinha de versos'. Em cada prato um sabor incomum. Estava aqui já acostumada a preparar sempre os mesmos banquetes e saborear as mesmas leituras e inspirações.
Por várias vezes preparei pratos recheados de saudades, temperava com carinho, com afeto e sempre deixava aquele gosto de: ei, eu quero mais!. Preparei banquetes em seu nome, saboreava cada tempero que vinha da lembrança de teu abraço, de teu beijo, de nossas conversas.. Não deixava sobrar nada sequer - cada vontade e incertezas eu devorava sem medo - e fazia valer todas as lágrimas que eu derramava ao chamar teu nome.
Mas foi com meus versos dedicados a ti, que descobri o valor que tem o meu eu. Então resolvi preparar pratos em que o gosto de tua saudade e de minha vontade apenas fosse sentido lá de longe... Aí então descobri que o meu eu tem um gosto muito mais saboroso e misterioso sem a tua lembrança, sei que a nossa mistura - (eu e você) - foi realmente algo de se 'lamber os dedos', mas do mesmo jeito que, dentro da cozinha de versos, os temperos não podem ser repetidos incessantemente, eu não poderia te saborear como algo inatingível sempre.
Na cozinha de verbos sempre tendo o amar e guardar, decidi pôr o deixar.
Por isso, quando eu tiver você aqui comigo, prepararei pratos recheados de alegria e de boa saudade, farei de meus versos uma explosão felicidade e satisfação.
Enquanto não, descobrirei novos sabores, novos temperos, vou experimentar chamar outros nomes e compor novos versos dentro dessa cozinha, vou exteriorizar tudo de novo que há dentro de mim, tanto o bom quanto o ruim.
E então, vou compor novos banquetes que com certeza não vão precisar de tua falta pra sentir a tua presença. Aliás, se você puder saborear esse 'prato', aproveite, será o último em em que vou sentir o sabor de tua saudade.

(Uma cozinha de versos.. Torço pra que Anitelli não me processe por ter vindo 'cozinhar' algumas de minhas idéias)

domingo, 12 de julho de 2009

Perfeito ~

As vezes nem precisamos passar horas escrevendo, nem ligar no meio da noite desesperado para desabafar, não precisamos nos entupir de remédios loucos ou problemas imaginários.. A música toma uma parte nossa tão grande e tão nossa.. Que mesmo sem dedicatórias ou comentários frívolos, ela se torna altamente descritiva.

O anjo mais velho - Fernando Anitelli, de
O Teatro Mágico:


"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
Enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar

Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto... depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só

Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você

Só enquanto eu respirar

Falando..

Esses dias fui surpreendida e tive todas as minhas dúvidas sobre a 'amizade' postas em prova. Uma coisa que está se tornando comum aqui na minha região, são os acidentes e tragédias envolvendo adolescentes. Recentemente aconteceu algo que chocou toda a cidade: quatro jovens morrem em um acidente de carro. Como todo jovem que 'se preze': cada um tinha uma família com todo um histórico e uma dor do vazio que não cabe a mim - até porque seria absolutamente impossível - descrever a dor da perda de um filho.
Foi uma tristeza coletiva, e junto dela o alerta: 'Direção não combina com álcool'. Mais do que isso o que mais se falava, aliás, SÓ o que se falava era: 'como fulano deve tá se sentindo'.. 'ela não podia perder ele'. Tudo isso, falávamos numa piedade imensa, como se tudo tivesse acontecendo a 4528963km de distância.
Bem, há dois dias que a minha 'melhor' amiga perdeu um tio. Bem, devo dizer que ela é a pessoa mais forte que possamos imaginar. Quando ela me falava sobre os problemas que ele passava, eu só podia contribuir com um pouco do meu conforto e o excesso de minhas preces.. Mas depois que ele faleceu, que a dor cravou no peito dela.. eu só podia pedir aos meus anjos da guarda que dividissem a dor dela comigo.
Ela não perdeu um tio jovem, nem foi num acidente, nem nada parecido com o fato que relatei.. A única coisa que se assemelha e ao mesmo tempo difere é a dor. Quando achei que o vazio não me atingiria tive piedade, e quando - mesmo de longe - senti o vazio chegar até mim, me deu um desespero, uma agonia, eu não queria que a família sentisse falta daquela pessoa, eu não queria vê aquelas pessoas sofrerem..
E mesmo que as pessoas me cobrem serenidade - pelo fato de eu ser espírita - não há nada tão doloroso quanto perder alguém que a gente ama.. Mas é doloroso também, querer diminuir a dor de quem sofre pela falta de outrem.